domingo, 30 de novembro de 2008

A ATRIBULADA E TRÁGICA VIDA DE ELICARLOS EMANUEL SARAIVA, “O MANTO”.

“Não é necessário contar minha desgraçada situação para deixar todos com pena de mim, basta mostrar-lhes o modo como lido com os talheres”.

Assim começava a descrição autobiográfica de Elicarlos Emanuel Saraiva, “O Manto”, como era conhecido nos seus anos menos profícuos, como animador de eventos na cidade de São Paulo. Devido à sua timidez, “O Manto” nunca dizia mais que duas palavras e se limitava a tentar se esconder nos cantos da sala, onde era sempre confundido com uma gárgula, o que divertia a todos.

Certa feita, relembra, foi à reunião dos Tímidos Anônimos, o TÁ. A reunião seguia muito bem, todos calados desde que entraram, até o momento em que um deles, vencendo aquela enorme muralha de timidez que o sufocava, levantou o dedo e pediu palavra: “que cheiro de gás é esse?”. Uma grande tragédia, lamenta.

Quando nasceu fora abandonado pelos pais, que preferiram criar a placenta, dando a ela o nome de Victória Cristina. Mais tarde, para grande orgulho da mãe, ela acabaria formando-se em direito pela Universidade de Chicago. Esse fora um duro golpe para “O Manto”, que desde então, sem ninguém entender, começaria a falar como o Paulo Francis.

O súbito interesse pela esgrima o faria perder a orelha esquerda num torneio no Iêmen, em 1982. Fato esse que o remete logo à pintura, onde descobre, após fracassadas tentativas de colorir uma maçã, que era daltônico.

Mas fora pela sua monumental timidez e falta absoluta de talento para qualquer coisa que fez com que conseguisse um papel como ator, num seriado cômico de TV. Fazia ponta como um poodle. Fato que logo o projetaria em direção à carreira no cinema internacional. Foi o Gremlin Faixa, que destruiu impiedosamente Kingston Falls no grande sucesso de sua carreira, “Os Gremlins”.

Elicarlos vivia uma vida tranqüila, mas sentia que algo lhe faltava para que encontrar-se em total felicidade transcendental. E ela veio em forma feminina. Elicarlos iniciou um turbulento romance com Elke, a jumentinha fogosa que fizera grande sucesso no cinema brasileiro em “O Pagador de Promessas”.

A felicidade não duraria muito na atribulada vida de “O Manto”. Seis meses mais tarde, Elke morreria posoteada por uma manada de Elefantes que invadira um teatro onde assistiam à peça “O Rei Lear”, de Shakespeare.

“O Manto” afundara-se na bebida e nas jogatinas. Sua carreira fora profundamente abalada e as ofertas de emprego eram cada dia mais escassas. Até o ponto em que ele jogaria sua última moeda, a moeda da sorte, no número treze. Mas os dados só iam até doze e ele perdeu tudo o que tinha.

Sujo e maltrapilho chegou a pedir nas ruas de Nova Iorque, onde, numa noite fria de outono, mataria uma mulher do coração, tentando mostrar-lhe um passo de Fred Astaire, para ganhar uns trocados. Condenado há doze anos, ele aproveitou para escrever o livro que mudaria novamente sua vida. Sucesso absoluta em vendas, ele sairia da cadeia com roupas novas, dinheiro e uma proposta para interpretar ele próprio num filme de Sean Penn.

Mas a vida de Elicarlos “O Manto” não teria um final feliz. Na saída do presídio, no mesmo instante em que morria George Harrison, “O Manto” morreria tragicamente, atropelado por uma manada de palhaços obesos que tentavam voar para o sul no inverno.

4 comentários:

Cristina Medeiros disse...

rsrsrs, atribulada mesma. mas eu gostei. estou com muuuuuitas saudades de você. que bom que voltou a publicar em blog. beijocas.
Cris Medeiros

Fabiano Novais disse...

Saudades, amiga...

e o livro, recebeu meu recado?

beijos.

Leo Paixão disse...

Rssss, sinto uma certa nostalgia, porém muito efêmera.
Quando volta pra mais cervejas, porções e troca de algumas verdades fantasiosas por aqui?

bernardo pessoa disse...

Muito bom o texto, professor! muito engraçado.
na medida

mas, o que eu quero mesmo é ler mais trechos de seu livro.

agora tambem estou conectado: http://textosdegaveta.wordpress.com/
dessa maneira vc pode me criticar tambem via internet. hahahaha

abraço