quinta-feira, 27 de novembro de 2008

Mais um Uísque!

O Eduardo me falou que ele mudou depois daquele dia. Que quando soprou na boca daquele menino que nasceu morto e o pequeno chorou, ele sentiu como se a vida tivesse saído dele e ido direto pro pequeno. Você sabe o que isso significa? Pense! Como o sopro da vida. Ele era um Deus naquele momento, transformando barro em vida. O Eduardo, aquele mesmo que dançou com uma pilastra na Boate Lua naquele dia, de tão bêbado. Como ele pode ser um Deus? Não está certo! Se alguém deveria seu um Deus, que seja eu, que sou escritor. Que crio um mundo, personagens, vida...

Mas, ultimamente só me sinto como um mero espectador. Sabe, daqueles impotentes que vêem seu time perder da cadeira numerada. Pior, daqueles que nem xingam o técnico. A vida, que controle temos sobre ela? Estou num emprego que não gosto como desculpa pra ter mais tempo pra escrever. E não escrevo nada que preste há meses. Estou desestimulado. Queria ajudar alguém, soprar vida pra dentro de um corpo de recém-nascido, sei lá!

“então, porque você não ajuda alguém? Me sinto muito melhor quando vou às quartas dar sopa e roupas pros sem-teto.”

Até tu, Carlão! Puta que o pariu! Garçon, mais um uísque, por favor!

5 comentários:

Leo Paixão disse...

A caridade é a pior forma de egoísmo. Usar o menos favorecido em benefício próprio.

Mas em relação ao tema principal: pese bem. Se atolar em um trabalho repetitivo e extremamente técnico não vai te fazer escrever mais. Vai é jogar uma pá de cal em sua criatividade.

Quer ser um rico frustrado? Longe de qualquer estímulo cultural?
É, cara, a vida passa bem embaixo de nosso nariz, e quando não temos mais o que fazer, falamos: “É, deveria ter...”

Para de sentir pena de si mesmo. Qual controle temos sobre a vida? Quase nenhum. E é bom, pelo menos, escolher de forma legítima no pouco que podemos.

E se errarmos na escolha, e sempre erraremos em várias (não dá pra prever o futuro), o mais genial de tudo é que sempre podemos mudar de idéia. Até a escolha certa. A vida é sua, e foda-se o resto.

Tereza Perazza disse...

Imagino que o desestímulo vem da falta de tesão pela vida. Pois acho que independente do trabalho, quando há tesão pela vida, por todos os aspectos dela, se escreve.

Agora, pegando emprestado um pouco do que o Leo Paixão falou acima, o que querer ajudar alguém tem a ver com a escrita?

Fabiano Novais disse...

Agradeço novamente os comentários,

e a literatura não tem nada a ver com trabalho!
Se você é escritor, não é uma vida monótona que te vai fazer escrever pior (muitos dos clássicos da literatura foram escritos no exílio ou no cárcere).
Ajudar os outros ou não, é uma questão pessoal e irrelevante no que diz respeito à literatura (a não ser que vc deseje escrever auto-ajuda).
Acho que esse personagem é um frustrado e duvido que seja um escritor de verdade!
Abraços

Leo Paixão disse...

"Se você é escritor, não é uma vida monótona que te vai fazer escrever pior (muitos dos clássicos da literatura foram escritos no exílio ou no cárcere)."

Você considera exílio ou cárcere uma vida monótona? Ter tirada de você a liberdade ou o direito de ir e vir é o oposto da monotonia. É, sim, o combustível da indignação.

Agora, qualquer tipo de artista precisa tomar emprestado um pouco da genialidade ou criatividade de seus comparsas e da cultura de onde vivem. É isso que cria uma época e uma cultura, as pessoas. Pense o que seria de Rodin sem Camille Claudel, ou de Sartre sem a Simone, ou de Scott Fitzgerald sem a Zelda, James Joyce sem Samuel Beckett, Hemmingway sem toda a Geração Perdida, ou de todos esses sem Paris. Aqui Paris, como Roma na época dos romanos, não é uma cidade, mas uma idéia, um sonho. BH talvez também tenha lá sua parte onírica.

Mas quem sou eu pra saber o que é ou não o escritor. Logo eu, um simples médico de PSF, aspirante a cozinheiro?

Deixo a você essa "questão ... no que diz respeito à literatura".

Cristina Medeiros disse...

eu ia pedir mais um uisque, mas será que pode ser uma catuaba?!?! rsrsrsrs... beijinhos
PS: Você já conhece o sanfoneiro dai? O Bernardo tinha me dito que tem um... beijinhos de novo